terça-feira, 4 de março de 2014

"Estamos a morrer de doenças causadas pela faca e o garfo"

Entrevista com o médico americano Joel Fuhrman que publicou, recentemente o livro "Comer para viver"


"Temos de mudar a forma de olhar a comida.
Há que voltar à natureza, comer local, preferir frutas e vegetais,
em vez de comida processada e produtos animais."

Uma receita que, segundo Joel Fuhrman, não só dá longevidade como protege o planeta.

  1. Desde quando se dedica a investigar os efeitos da comida na saúde?
    Sempre foi o meu hobby. Fui estudar medicina, em 1984, porque tinha interesse no poder da nutrição na prevenção e reversão de doenças. A medicina estava a ir na direção errada e a nutrição já me parecia ser a avenida por onde as pessoas deveriam seguir, para prevenir o cancro, ataques de coração, demência, diabetes.
  2. Chegou a que conclusões, desde então?
    As pessoas estão a sofrer e a morrer de doenças causadas pela faca e o garfo, sem necessidade. A ciência da nutrição evoluiu de tal forma que pode afirmar-se, com integridade científica, que os ataques cardíacos, tromboses ou demência, não são uma obrigatoriedade, nos velhos. E podemos ganhar a guerra ao cancro.
  3. Desde quando é que as nossas doenças são causadas pela comida?
    Desde os anos 1940 e 1950, quando houve um aumento brutal das taxas de cancro e doenças do coração. Mas já no século XVIII se assinalavam muitas mortes prematuras, causadas por uma dieta que não era a mais adequada. Só que, agora, podemos apontar mais facilmente de que alimentos precisamos para promover a longevidade humana.
  4. E que alimentos são esses?
    São aqueles a que chamo Gbombs: Green vegetables (vegetais), Beans (leguminosas), Onions (cebola), Mushrooms (cogumelos), Berries (bagas) e Seeds (sementes).
    O que mudou na nossa alimentação, a partir de 1940? Come-se mais comida processada, açúcar, óleos, derivados de animais. Quando se exportou este tipo de comida, os casos de doença cardíaca, diabetes e cancro aumentaram significativamente nos países importadores.
  5. Que outros alimentos devíamos largar? Arroz branco, massas brancas, pão branco, tudo o que seja feito à base de farinhas refinadas.
    Em suma, abandonar aquelas dietas em que se come pão, bolos, bolachas, massas, cereais de pequeno-almoço e se bebem refrigerantes. É de loucos, meter estes alimentos vazios de nutrientes e cheios de calorias no corpo e pensar que não se paga um preço. Somos o que comemos.
  6. Quais os principais efeitos que esses alimentos provocam? Não é apenas por não terem nutrientes que as comidas processadas devem ser evitadas são absorvidas tão rapidamente que fazem disparar os níveis de insulina. A ciência está a descobrir que a combinação da comida processada com elevados níveis de produtos animais é promotora de cancro.
  7. Quais são os segredos da sua fórmula?
    São as Gboms. O principal é comer uma grande salada todos os dias, usando nozes ou sementes para temperar, em vez de azeite.
    Assim, há sinergia de macronutrientes para que o corpo resista às doenças e se viva mais tempo.
  8. Não há lugar para carne, peixe ou ovos? Há, mas nunca em mais do que uma refeição por dia, em pequenas quantidades - cerca de 10% das calorias ingeridas.
    Não se pode comer ovos com queijo de manhã, um pedaço de carne ao almoço, um prato de peixe ao jantar e esperar continuar saudável. Há que comer cereais integrais, fruta fresca e bagas ao pequeno-almoço, sopa de feijão e vegetais e uma salada ao almoço, e peixe ou ovos ao jantar.
  9. Em Portugal, come-se muito pão. Sei que também o considera nocivo.
    Quanto mais branco for o pão, mais cedo se morrerá. Ele transforma-se em açúcar, produzindo insulina e fazendo com que o pâncreas trabalhe demais. O consumo de pão, arroz branco e açúcar aumenta o risco de diabetes, doenças cardíacas e cancro. Queremos que as pessoas parem de fazer mal a si próprias através de alimentos que não foram desenhados para a nossa espécie. Não quero dizer que é proibido comer pão podem fazer um com mistura de grãos e cereais integrais, por exemplo, mas nunca de trigo branco. Há receitas ótimas, sem serem baseadas em farinha e açúcar.
  10. Tem de concordar que é difícil cumprir a sua dieta, quando comemos metade das nossas refeições em restaurantes. Os restaurantes também têm de mudar. Difícil é ter uma trombose, ficar sem mexer um braço, não conseguir tomar conta da família.
    Comer saudável pode ser divertido e fácil, dá-nos poder para controlar a nossa saúde e sentirmo-nos bem. Talvez seja um pouco difícil mudar de hábitos, no início, mas a diferença é muito poderosa e os benefícios são tremendos.
  11. O que é preciso para essa mudança?  Educação. Há 60 anos, as pessoas achavam que não havia problema em fumar, isso não ia matá-las. Mas houve quem parasse quando percebeu que os cigarros faziam mal. Algumas dietas da atualidade são tão perigosas como fumar cigarros, estão a matar pessoas e a destruirlhes a vida.
  12. Há que lutar contra a obesidade como lutámos contra o tabaco?
    Não se trata apenas de obesidade. Temos de parar de comer farinha e açúcar, combater a junk food e a comida processada. As pessoas têm de se preocuparem com a sua saúde.
  13. Pode explicar-me a equação que criou, a S=N/C?
    A esperança de vida saudável está dependente da relação dos nutrientes com as calorias.
    O foco deve estar em comer alimentos com elevados níveis de nutrientes, que são os vegetais.
  14. As pessoas procuram-no apenas quando estão doentes ou obesas?
    É muito gratificante ver o resultado em pessoas que perderam imenso peso, mas há muita gente que quer prevenir doenças no futuro, dizer não ao cancro, à demência ou às tromboses.
    Querem ser saudáveis, por muito tempo.
  15. Até nos EUA, onde há uma percentagem enorme de pessoas com excesso de peso e obesidade e todos os problemas associados?
    Também temos uma crescente população de entusiastas da saúde. Há cada vez mais restaurantes e lojas de comida saudável.
  16. Apesar de o seu livro reportar à realidade americana, também faz sucesso noutros países. Porque será? Porque estão a cometer o mesmo tipo de erros do que nós. A Europa não está a sair-se bem: as percentagens de cancro e diabetes, por exemplo, são elevadas. O mundo inteiro está a sofrer as consequências de comer demasiado açúcar, carne ou farinhas refinadas.
  17. Não acha, portanto, que a Dieta Mediterrânica é saudável, apesar de ter sido agora considerada como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO?
    Pode ser melhor do que a americana, mas não quer dizer que seja boa. Usa-se imenso azeite, massa e queijo. O que a salva é o molho de tomate, as nozes e as sementes.
  18. Também desaconselha o leite porquê?
    Bebê-lo faz subir a proteína IGF-1, que promove cancro da mama e da próstata. Esta bebida vem de um animal cujo crescimento é estimulado e essa estimulação vai acabar por promover a replicação de células cancerígenas no ser humano.
  19. Desde quando começou a alimentar-se assim?
    Na adolescência. Fazia parte da seleção de skate e queria melhorar a minha performance sem ficar doente.
  20. E em sua casa, comem todos assim?
    Sim, e gostam. As minhas filhas são verdadeiras chefs, fazem comida incrível.
  21. Nenhum dos seus quatro filhos mostrou, em algum momento, qualquer espécie de resistência?
    Sempre que vão a uma festa, damos-lhes liberdade para fazerem as suas escolhas. Mas, basicamente, a maior parte da dieta deles é saudável e sempre gostaram.
  22. E nunca ficam doentes?
    Têm muita resistência e não me lembro de tomarem medicamentos. As comidas que nos protegem de desenvolver cancro também nos livram de vírus e bactérias.
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Ler mais: http://visao.sapo.pt/estamos-a-morrer-de-doencas-causadas-pela-faca-e-o-garfo=f771222#ixzz2v2IiAhM1

2 comentários:

  1. Uau, obrigada por esta partilha. Tenho que ler isto várias vezes para acabar de vez com as porcarias todas que como. Obrigada *

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    1. Li o livro completo e recomendo! Mesmo que não se siga à risca é bom porque tem muita informação acerca de alimentação

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